Saúde
Cuidados essenciais para um bom diagnóstico
Eficácia do exame de papanicolau depende de esforço conjunto da rede e de quem realiza a análise
Jô Folha -
O exame de papanicolau está suspenso na rede municipal há cerca de dez dias devido às suspeitas de fraude no procedimento. Enquanto o laboratório contratado de forma emergencial não assume o serviço, as mulheres precisam recorrer à rede federal ou até mesmo particular para ter acesso a ele. O exame é fundamental para o rastreamento do câncer de colo de útero e, para ter eficácia, é preciso atenção de todas as partes envolvidas no processo, desde a paciente até o profissional que irá analisar as lâminas.
Maria Celene Longo, professora de Ginecologia da Faculdade de Medicina da UFPel, explica que o público-alvo da política de prevenção ao câncer de colo de útero são mulheres com idade entre 25 e 64 anos. Apesar disso, ela orienta que o exame de papanicolau comece a ser feito assim que a pessoa iniciar a vida sexual. O objetivo do exame, segundo ela, é investigar a presença de células alteradas que podem desencadear a doença.
A coleta pode ser feita tanto por médicos quanto por enfermeiros. Com o auxílio de uma espátula, o profissional coleta células das laterais (parte externa) e do colo do útero (parte interna). Em seguida, deposita a amostra sobre uma lâmina de vidro e fixa o material com um produto específico. São necessárias de oito a 12 mil células para uma análise adequada.
Outros fatores também são essenciais para um bom diagnóstico. Coisas que parecem simples, como a identificação adequada da lâmina, podem fazer a diferença se não forem observadas. "Uma boa comunicação entre os profissionais é fundamental. O médico deve escrever no pedido se observou alguma alteração durante o exame clínico", recomenda. O transporte até o laboratório precisa obedecer a um padrão estabelecido e a análise deve ser feita com muita atenção.
Aos órgãos oficiais cabe a fiscalização do laboratório. Existem normas que controlam a qualidade do serviço prestado. Dentre elas, há uma recomendação para que um percentual das amostras analisadas seja examinado por outro estabelecimento, comprovando, assim, a veracidade dos resultados. "Não é necessário que todas as amostras sejam analisadas mais de uma vez. Há uma margem para isso", explica a médica.
O estado de saúde da paciente pode interferir na qualidade do exame. Para coletar o material ela não pode ter menstruado nos últimos quatro dias. Também não pode ter relações sexuais nas 24 horas anteriores ao exame. Se estiver com corrimento deve primeiro tratar o sintoma para depois submeter-se ao procedimento. O uso de lubrificantes no momento da coleta não é recomendado.
Prevenção
A ginecologista Celene Longo afirma que o câncer de colo de útero tem altas chances de cura se for diagnosticado no início. Por isso é tão importante comparecer ao médico regularmente e realizar os exames solicitados. É recomendada a realização de dois exames de papanicolau com intervalo de um ano. Se ambos apontarem estar tudo normal, os próximos podem ser feitos de três em três anos. Caso a mulher apresente algum fator de risco (veja o quadro abaixo), o intervalo entre os exames deve ser menor.
Vacinar-se contra o HPV é outro método de prevenir a doença. A imunização está disponível na rede pública para meninas de nove a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Ela protege contra o vírus de baixo risco (tipos 6 e 11) e de alto risco (tipos 16 e 18, que causam o câncer de colo uterino). "Cabe às famílias proporcionarem isso às crianças", fala a médica. O uso do preservativo também é um jeito de evitar o contágio.
O exame voltará a ser oferecido em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) assim que o laboratório contratado de forma emergencial assumir o trabalho. Enquanto isso, uma opção é recorrer ao atendimento prestado pelas faculdades de Medicina da UFPel e da UCPel. Na Federal, a consulta é oferecida no ambulatório da Faculdade de Medicina (avenida Duque de Caxias, 250). Na Católica, o atendimento ocorre no campus Dr. Franklin Olivé Leite (avenida Fernando Osório, 1.586). Todos são gratuitos.
Falso negativo
Quando o médico percebe alterações no colo uterino já no exame clínico, o exame citopatológico (papanicolau) pode não ser o mais eficaz. Celene explica que as chances de o resultado ser um falso negativo, ou seja, não indicar nenhuma alteração mesmo havendo algo errado, são altas. Neste caso, o médico deve contar com outros recursos como a coposcopia ou o exame histopatológico - ambos oferecidos na rede pública.
Incidência
De acordo com Celene, a taxa brasileira de incidência do câncer de colo de útero corresponde à média mundial. São cerca de 15 casos a cada cem mil mulheres. O desejável, no entanto, é de dez a cada cem mil. A mortalidade corresponde, em média, a um terço dos casos. Ou seja, a cada cem mil mulheres, cinco morrem devido à doença. Em Pelotas, no ano de 2015, o índice de mortalidade foi de 5,15 por cem mil.
Fatores de risco
- Mulheres que passaram por três ou mais gestações
- Baixa imunidade (presença do vírus HIV)
- Tabagismo
- Uso de crack
- Infecção persistente por HPV
- Uso de contraceptivos orais
Sintomas
- Sangramentos fora do período menstrual
- Corrimentos
- Desconforto pélvico
Quando procurar um médico?
A cada três anos, se os dois primeiros exames feitos no intervalo de um ano apresentarem resultados normais
A cada seis meses para mulheres imunossuprimidas
A cada um ano para outras pacientes com fatores de risco ou sob orientação médica
A qualquer momento se apresentar sintomas
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